INTRODUÇÃO
Este
texto foi elaborado a partir das anotações gráficas e visuais
resultantes das atividades realizadas na Casa Intervenção para o
Projeto (Re)construindo. Com o objetivo de investigar novas
interações entre o site
specific
casa Intervenção e territórios não institucionalizados da arte,
estão sendo efetivadas diversas ações estéticas para a conclusão
do projeto contemplado pela Secretaria de Cultura de Fortaleza.
Durante
o segundo semestre de 2011, foram entrevistadas quinze família antes
da aprovação do projeto. Uma parte significativa das pessoas não
compreendia a essência da proposta artística, mesmo tendo sido
explanados anteriormente os propósitos das intervenções. É
visível a falta de informação e a inexistência de um contato com
o universo plástico contemporâneo. Para que o diálogo se
estabeleça, tenho visitado as casas, sugerindo novamente uma troca
de experiências. Uma das etapas mais importantes para a
concretização deste projeto é o processo de construção e
desconstrução da poética visual que permeia a obra: em 2011
garimpei e guardei objetos. São imagens que busquei no meu quarto
escuro e na memória afetiva do outro - laços. Didi-Huberman
(2000)
afirma que a memória se reconfigura e que a imagem, por mais antiga
que seja, no presente jamais cessa sua reconfiguração. Diante de
uma imagem, por mais contemporânea que seja, o passado, ao mesmo
tempo, torna-se essencial como referência para perceber as mutações,
porque essa imagem só se torna pensável em uma construção da
memória.
Estes objetos – impressões armazenadas que se metamorfoseam em
imagens, foram pensados e, alguns, já ocupam seu território na
intervenção. Fez-se necessário um vínculo entre as ações
realizadas no site
specifc
e as casas selecionadas, para estabelecer um diálogo entre os dois
espaços.
Em
2011, recebi candidatos ao estágio para conhecer e integrar o
Projeto. Foram escolhidos dois universitários; um deles acompanha o
processo de criação na Casa Intervenção e nas casas selecionadas,
o outro participará da organização das oficinas.
No
primeiro semestre deste ano serão expostas no CUCA: imagens e um
vídeo com a intervenção na casa e nas residências selecionadas
durante o período de 2010 e janeiro de 2011.
METODOLOGIA
Foram
utilizados os seguintes procedimentos a fim de angariar informações
para a realização das intervenções na comunidade do Trilho:
-
Contato com a comunidade
-
Pesquisa de campo realizada em 2010 e 2011, em 15 ( quinze)
residências da rua Jangadeiro.
-
Seleção de 6 (seis) famílias.
Para
uma melhor, eficaz e sistemática visualização dos dados coletados,
foi desenvolvida uma ficha padrão a ser aplicada junto a cada
família.
DIAGNÓSTICO
Os
dados coletados na pesquisa indicam que as pessoas entrevistadas não
possuem informações sobre o universo das artes visuais
contemporânea. Durante as visitas foi observado que apesar do
interesse de alguns pelo projeto, a arte não é considerada um
elemento
integrador e fomentador da reflexão e da transformação social.
Para uma grande parte, existem outras necessidades que devem ser
priorizadas. Houve um maior interesse da família no momento em que
foram oferecidas cestas básicas e oficinas cujo foco eram as
crianças . De um modo geral, mostraram-se curiosos; entretanto, uma
irrisória parcela repudiou qualquer tipo de contato. Faltando pouco
tempo para o encerramento das intervenções, nota-se que não há
espaço para uma discussão mais contundente sobre o assunto.
Apesar
da pouca valorização das artes no ambiente familiar, é visível
que inquietações estão sendo despertadas através do
trabalho artístico.
O
grupo selecionado está vivenciando uma experiência estética com a
arte contemporânea, algo atípico, fora do seu contexto. Percebe-se
a formação de novos espectadores, que buscam no contato com a arte
uma maneira de se completar . “O homem quer ser mais do que apenas
ele mesmo. Quer ser um homem total” (2002, p.12).
Estou
elaborando o plano de aula da última etapa do projeto que consta de
oficinas e aulas de História da Arte. O objetivo das aulas é
diminuir a distância entre a obra e o recente apreciador,
facilitando e preparando-o para a compreensão da Arte.
Em
2011 recolhi, acolhi e depositei em caixas, objetos que fazem parte
das intervenções. São imagens e objetos que remontam lembranças
minhas e de desconhecidos. Descontrui espaços ( Quarto 2),
sobrepondo a cor branca, na tentativa de retirar o acúmulo de
informações. A ideia minimalista, partiu da necessidade de criar
novas arenas para receber as intervenções desenvolvidas nas casas.
Enquanto seres simbólicos tentamos transcender
o presente temporal e espacial. As paredes do quarto , mesmo depois
da pintura e emassamento, respiravam os registros anteriores.
De
acordo com Barbosa, pesquisadores já mostraram que o ser humano
busca a solução de problemas através de dois comportamentos
básicos: o pragmático e o estético. Assim procedi no meu fazer
artístico, procurando uma solução mais prática para organizar o
material coletado; coloquei-os em caixas; porém, ao mesmo tempo,
observei o potencial estético de cada caixa-memória garimpada.
Estive presente na entrevista e no início da da contrução dos
sites
specifcs.
As intervenções são processuais, estão em contínua modificação;
elas tomaram forma e reconfiguram-se constantemente.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Durante
as etapas deste projeto de pesquisa e produção artística, tem sido
possível construir uma interação entre o trabalho estético
realizado no cerne da Casa Intervenção e os novos territórios não
institucionalizados da arte. Observa-se que mesmo diante as
dificuldades de compreensão por parte das famílias selecionadas,
há, até o exato momento, um interesse pelo projeto . É salutar
esclarecer que não haveria a possibilidade do diálogo entre os
espaços, caso não existisse a intervenção processual na Casa
Intervenção. É este fazer artístico que possibilita à comunidade
um encontro sensível com o objeto estético e a arte contemporânea,
através de uma troca de experiências. Diante de tais considerações,
o objetivo desta pesquisa é que os moradores das
residências selecionadas, através das intervenções realizadas em
suas casas, usufruam e apreciem a vivência estética,
encontrando na arte uma via de expressão,
comunicação e instrumento na construção da cidadania.
REFERÊNCIAS
DIDI-HUBERMAM,
Georges. Devant
le temps. Histoire de l'art et anachronisme des images.
Paris: Minuit, 2000: 10
FISCHER,
Ernst. A necessidade da arte. 9a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan,
2002
BARBOSA, Ana
Mae. Apreciar e Interpretar.
In: http://www.uol.com.br/sesc/sbv/
arte/art_ed.htm. (acessado em 11/Dez/2011)
arte/art_ed.htm. (acessado em 11/Dez/2011)