terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Relatório de Atividades


INTRODUÇÃO




Este texto foi elaborado a partir das anotações gráficas e visuais resultantes das atividades realizadas na Casa Intervenção para o Projeto (Re)construindo. Com o objetivo de investigar novas interações entre o site specific casa Intervenção e territórios não institucionalizados da arte, estão sendo efetivadas diversas ações estéticas para a conclusão do projeto contemplado pela Secretaria de Cultura de Fortaleza.
Durante o segundo semestre de 2011, foram entrevistadas quinze família antes da aprovação do projeto. Uma parte significativa das pessoas não compreendia a essência da proposta artística, mesmo tendo sido explanados anteriormente os propósitos das intervenções. É visível a falta de informação e a inexistência de um contato com o universo plástico contemporâneo. Para que o diálogo se estabeleça, tenho visitado as casas, sugerindo novamente uma troca de experiências. Uma das etapas mais importantes para a concretização deste projeto é o processo de construção e desconstrução da poética visual que permeia a obra: em 2011 garimpei e guardei objetos. São imagens que busquei no meu quarto escuro e na memória afetiva do outro - laços. Didi-Huberman (2000) afirma que a memória se reconfigura e que a imagem, por mais antiga que seja, no presente jamais cessa sua reconfiguração. Diante de uma imagem, por mais contemporânea que seja, o passado, ao mesmo tempo, torna-se essencial como referência para perceber as mutações, porque essa imagem só se torna pensável em uma construção da memória. Estes objetos – impressões armazenadas que se metamorfoseam em imagens, foram pensados e, alguns, já ocupam seu território na intervenção. Fez-se necessário um vínculo entre as ações realizadas no site specifc e as casas selecionadas, para estabelecer um diálogo entre os dois espaços.
Em 2011, recebi candidatos ao estágio para conhecer e integrar o Projeto. Foram escolhidos dois universitários; um deles acompanha o processo de criação na Casa Intervenção e nas casas selecionadas, o outro participará da organização das oficinas.
No primeiro semestre deste ano serão expostas no CUCA: imagens e um vídeo com a intervenção na casa e nas residências selecionadas durante o período de 2010 e janeiro de 2011.


METODOLOGIA


Foram utilizados os seguintes procedimentos a fim de angariar informações para a realização das intervenções na comunidade do Trilho:
- Contato com a comunidade
- Pesquisa de campo realizada em 2010 e 2011, em 15 ( quinze) residências da rua Jangadeiro.
- Seleção de 6 (seis) famílias.

Para uma melhor, eficaz e sistemática visualização dos dados coletados, foi desenvolvida uma ficha padrão a ser aplicada junto a cada família.


DIAGNÓSTICO



Os dados coletados na pesquisa indicam que as pessoas entrevistadas não possuem informações sobre o universo das artes visuais contemporânea. Durante as visitas foi observado que apesar do interesse de alguns pelo projeto, a arte não é considerada um elemento integrador e fomentador da reflexão e da transformação social. Para uma grande parte, existem outras necessidades que devem ser priorizadas. Houve um maior interesse da família no momento em que foram oferecidas cestas básicas e oficinas cujo foco eram as crianças . De um modo geral, mostraram-se curiosos; entretanto, uma irrisória parcela repudiou qualquer tipo de contato. Faltando pouco tempo para o encerramento das intervenções, nota-se que não há espaço para uma discussão mais contundente sobre o assunto. Apesar da pouca valorização das artes no ambiente familiar, é visível que inquietações estão sendo despertadas através do trabalho artístico.
O grupo selecionado está vivenciando uma experiência estética com a arte contemporânea, algo atípico, fora do seu contexto. Percebe-se a formação de novos espectadores, que buscam no contato com a arte uma maneira de se completar . “O homem quer ser mais do que apenas ele mesmo. Quer ser um homem total” (2002, p.12).
Estou elaborando o plano de aula da última etapa do projeto que consta de oficinas e aulas de História da Arte. O objetivo das aulas é diminuir a distância entre a obra e o recente apreciador, facilitando e preparando-o para a compreensão da Arte.
Em 2011 recolhi, acolhi e depositei em caixas, objetos que fazem parte das intervenções. São imagens e objetos que remontam lembranças minhas e de desconhecidos. Descontrui espaços ( Quarto 2), sobrepondo a cor branca, na tentativa de retirar o acúmulo de informações. A ideia minimalista, partiu da necessidade de criar novas arenas para receber as intervenções desenvolvidas nas casas. Enquanto seres simbólicos tentamos transcender o presente temporal e espacial. As paredes do quarto , mesmo depois da pintura e emassamento, respiravam os registros anteriores.
De acordo com Barbosa, pesquisadores já mostraram que o ser humano busca a solução de problemas através de dois comportamentos básicos: o pragmático e o estético. Assim procedi no meu fazer artístico, procurando uma solução mais prática para organizar o material coletado; coloquei-os em caixas; porém, ao mesmo tempo, observei o potencial estético de cada caixa-memória garimpada. Estive presente na entrevista e no início da da contrução dos sites specifcs. As intervenções são processuais, estão em contínua modificação; elas tomaram forma e reconfiguram-se constantemente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as etapas deste projeto de pesquisa e produção artística, tem sido possível construir uma interação entre o trabalho estético realizado no cerne da Casa Intervenção e os novos territórios não institucionalizados da arte. Observa-se que mesmo diante as dificuldades de compreensão por parte das famílias selecionadas, há, até o exato momento, um interesse pelo projeto . É salutar esclarecer que não haveria a possibilidade do diálogo entre os espaços, caso não existisse a intervenção processual na Casa Intervenção. É este fazer artístico que possibilita à comunidade um encontro sensível com o objeto estético e a arte contemporânea, através de uma troca de experiências. Diante de tais considerações, o objetivo desta pesquisa  é que  os moradores das residências selecionadas, através das intervenções realizadas em suas casas, usufruam  e apreciem a vivência estética, encontrando na arte uma via  de  expressão, comunicação e instrumento na construção da cidadania.


REFERÊNCIAS


DIDI-HUBERMAM, Georges. Devant le temps. Histoire de l'art et anachronisme des images. Paris: Minuit, 2000: 10

FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2002

BARBOSA, Ana Mae. Apreciar e Interpretar. In: http://www.uol.com.br/sesc/sbv/
arte/art_ed.htm. (acessado em 11/Dez/2011)